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sexta-feira, abril 19, 2024

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Elis, simplesmente

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Elis. Um misto de intensidade e talento foi para o cinema com adaptação e direção de Hugo Prata sendo apontado como um dos melhores filmes sobre a biografia desta cantora inesquecível. Mas, será possível reproduzir alguém tão marcante?

Para a atriz Andréia Horta, o desafio foi grande: Um misto de admiração e responsabilidade que a levou as lágrimas em muitas cenas.  De fato, ser Elis não é tarefa lá muito fácil….

Gaúcha de Porto Alegre ela desembarcou no  Rio de Janeiro em 1961. O que ela queria? Somente poder cantar a sua música.

O primeiro disco foi lançado em 1962 e, dois anos depois, em pleno golpe de 64 Elis Regina ostentava uma agenda lotada de shows no eixo Rio São Paulo.

Aliás, o nome composto “Elis Regina” veio de um fato inusitado: Dizem que seu nome era para Ser Elis Costa Carvalho, mas, para o Cartório da época, Elis era um nome que poderia ser apontado tanto como de mulher, quanto de homem então, seria necessário um nome do meio “mais feminino”ou substituir o nome Elis. Como não queria abrir mão de Elis, o pai então optou por colar Elis Regina Costa Carvalho.

Escolher Regina como nome do meio não poderia ser mais providencial para aquela que seria considerada por  por muitos críticos a melhor cantora popular do Brasil a partir dos anos 1960 ao início dos anos 1980; para muitos, a comparada a cantoras como Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan e  Billie Holiday.

Ainda em 1964,  Elis já estava mais que habituada aos palcos sendo a estrela do Noites de Gala na TV Rio. Mas foi a partir de um lugar especial do Rio de Janeiro que a sua luz passou a brilhar mais forte: O emblemático Beco das Garrafas. Ali, na  travessa sem saída da rua Duvivier, entre os edifícios de números 21 e 37 de Copacabana, na voz marcante da intensa Elis Regina, um movimento começou a ganhar mais força a MPB.

Foi no Beco das Garrafas que Elis iniciou a parceria com Boscoli, com quem se casaria em 1967 e foi lá também que ela conheceu  o coreógrafo americano Lennie Dale, que nas palavras do escritor John Dougan, “a ensinou a mexer o corpo para cantar, tirando aquele nado que ela tinha com os braços.”

O ano de 1964 foi muito importante para Elis. Foi naquele ano que ela ao participar  do espetáculo Fino da Bossa organizado pelo Centro Acadêmico da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, que ficou conhecido também como Primeiro Demti-Samba, dirigido por Walter Silva, no Teatro Paramount, atual Teatro Abril (São Paulo).  Ao final deste ano marcante, veio o memorável período dos Festivais de MPB da TV Record,  onde Elis conheceu um dos seus amigos mais queridos:  Jair Rodrigues.

Elis Regina foi a primeira cantora a registrar a própria voz na Ordem dos Músicos do Brasil, como instrumento musical e lutou muito pelo direito dos músicos brasileiros. Pioneira, em 1966 lançou o selo Artistas, registrando o primeiro disco independente produzido no Brasil, intitulado Viva o Festival da Música Popular Brasileira, gravado durante o festival.

A antológica interpretação de Arrastão (Edu Lobo e Vinícius de Moraes), no Festival, escreveu um novo capítulo na história da música brasileira, inaugurando a MPB e apresentando uma Elis ousada. Uma interpretação inesquecível, encenada pouco depois de completar apenas 20 anos de idade e coroada com o reconhecimento do Prêmio Berimbau de Ouro. O Troféu Roquette Pinto veio na sequência, elegendo-a a Melhor cantora do ano.

O estilo musical interpretado ao longo da carreira era conhecido como “fino da bossa nova”,  tornando Elis uma das  maiores referências vocais do gênero.  Autêntica e ousada, também deixou seu nome escrito na história do samba onde se consagrou ao interpretar “Tiro ao Álvaro” e “Iracema” (Adoniran Barbosa), entre outros.  Elis era de uma uniformidade vocal impressionante, dona de uma  primazia técnica e afinação a toda prova.

A personalidade forte, também era uma marca registrada de Elis Regina: durante os difíceis anos de chumbo (1968-1974),  quando muitos músicos foram perseguidos e exilados, no auge da sua carreira ela também utilizou a sua marcante voz para criticar  a ditadura brasileira. A crítica tornava-se pública em meio às declarações ou nas canções que interpretava. Em entrevista, no ano de 1969,  dizem que Elis teria afirmado que o Brasil era governado por gorilas.  Segundo relatos,  como forma de “castigo”, foi obrigada pelas autoridades a cantar o Hino Nacional durante um espetáculo em um estádio, fato que despertou a ira da esquerda brasileira.

Mas a popularidade  de Elis a manteve fora da prisão. Apesar das tentativas de repreendê-la, ela sempre esteve enganjada politicamente participando de  vários  movimentos de renovação política e cultural brasileira, com voz ativa da campanha pela Anistia de exilados brasileiros o que a tornava ainda mais respeitada e admirada. A interpretação de “O bêbado e a equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc)”, coroou a volta de personalidades brasileiras do exílio, a partir de 1979.

Além de lutar pelos músicos Elis também era grande defensora do direito das mulheres. No  especial Mulher 80 (Rede Globo), um desses momentos marcantes da televisão, uma série de entrevistas e musicais cujo tema era a mulher e a discussão do papel feminino na sociedade de então, abordando esta temática no contexto da música nacional e da inegável preponderância das vozes femininas,  ela estava presente com Maria Bethânia, Fafá de Belém, Zezé Motta, Marina Lima, Simone, Rita Lee, Joanna, Elis Regina, Gal Costa e as participações especiais das atrizes Regina Duarte e Narjara Turetta.

Desde 2005 a Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, abriga o Acervo Elis Regina com uma  coleção de fotografias, artigos, objetos, discos doados por fãs, jornalistas e amigos pessoais de Elis remetem  à vida e a obra desta inesquecível cantora. Em 2015, Elis Regina foi a grande homenageada da Escola de Samba Vai-Vai, com o enredo “Simplesmente Elis – A Fábula de Uma Voz na Transversal do Tempo, o que levou a escola a a conquistar o título do ano de 2015.

A sua morte aos 36 anos de idade em 19 de janeiro de 1982, causou grande comoção nacional. Mas entre os tesouros que deixou para a nossa música está a filha Maria Rita, nascida em 1977 que, seguindo os passos da mãe, tornou-se uma das mais respeitadas cantoras brasileiras.

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